Três - Valérie Perrin - um retrato de amizade, resiliência e das vivências de uma vida
- Janaina Pereira
- 5 de nov. de 2024
- 3 min de leitura

Fazia muito tempo que não via, lia, uma reviravolta que realmente fizesse jus ao ato de te surpreender, mas aqui Valerie Perrin foi magistral. Três vai acompanhar Nina, Étienne e Adrien, 3 amigos que se conhecem na escola com 10 anos, e começam uma relação de amizade, admiração, amor e acolhimento, só que 30 anos depois eles já não te, qualquer contato, e na cidade que eles cresceram um carro é descoberto no fundo do lago, esse mistério é o estopim para que a vida dos três se cruzem novamente, é o momento de cada um repensar suas escolhas, muitos segredos serão revelados, feridas reabertas, dores curadas.
O livro vai intercalar o passado mais distante, recente, e o presente, e o que me deixou bem confusa no início é que quem narra este começo é Virginie, uma jornalista ue está investigando o carro achado no lago, e é por meio do olhar dela sobre os três que começamos a fazer essa viagem no tempo. Nina é criada pelo avô materno, sua mãe a deixou ainda bebê, seu pai é desconhecido, ela gosta de desenhar, dos animais. Já Étienne vive com os pais, tem um irmão mais velho, e uma mais nova, a Louise, não gosta de estudar, mas desde cedo tem um alto estima elevada, sempre o bonitão, chama atenção de todos. Ádrien, é o mais calado dos três, vive apenas com a mãe, convive esporadicamente com o pai que mora em Paris e tem outra família. Essa amizade deles envolve a família de todos, lemos inúmeros momentos dos meninos na casa de Nina, eles viajando com a família de Étienne, e a estranheza/curiosidade é o motivo que afastou os três durante tanto tempo.
A graciosidade de Três está no aprofundamento que temos para cada personagem, nada é por caso, tudo isso está sendo construído para algo maior, revelador e ligado á narrativa central, em muitos livros essas minucias são usadas para dar mais volume, e nem sempre isso está agregando para a história, só que Valérie Perrin ousou e interligou cada momento dessas pessoas. Esse vai e vem entre passado/presente te traz uma nostalgia da infância, aqueles sonhos tão profundos, as promessas que fazemos quando ainda não compreendemos o quanto complexo pode ser a vida.
Quando chegamos na adolescência dos 3 há também muito identificação com as descobertas, o mundo está ali para que você o devore, tudo é mais latente, muitos sentimentos novos chegam, com o furor de achar que agora você sabe mais, pode mais, ser jovem tem essa impulsividade em tudo e todos, e é quase sempre nesse momento da vida que as nossas escolhas podem nos levar a caminhos inesperados, e assim como na vida, Nina, Étienne e Adrien passam por muitos percalços, e tudo isso culminou no que antes era impensável, os três agora nem se falam.
Claro que algumas amizades surgem e passam, mas no caso do três há muito sentimento, envolvimento, e isso não diminui em nada que em muitos momentos eles irão se magoar, se decepcionar, e você vai lendo sobre esses encontros, desencontros, a ausência, e isso vai te emocionar por eles, e fazer de fato você ir lembrando as pessoas que estão, ou que passaram em algum momento na sua vida. E a grande reviravolta que temos quase no final do livro, é de fato surreal, e a sua primeira vontade é voltar as páginas para ler de novo com essa revelação, mas eu particularmente achei que o desfecho de Três casual, real e com muito significado, a autora não deu um ponto final, do tipo “felizes para sempre”, ela queria contar até aquele momento, e assim o fez sem a preocupação em dar mais detalhes, e isso é uma das coisas mais reais, porque na vida nem sempre há desfechos, o ponto final pode ser uma vírgula para o depois que ninguém ainda sabe.
Nota: Excelente, surpreendente, revelador
Editora: Intrínseca