Silêncio - tinha tudo para ser boa, mas se perdeu

Duas coisas me chamaram atenção no trailer de Silêncio. A primeira é de ser em língua espanhola, e a segunda é o mistério que estavam prometendo no trailer.

Vamos conhecer Sergio (Arón Piper), um jovem que foi condenado pela morte de seus pais, e desde o dia do crime não falou mais uma palavra, depois de cumprir 6 anos ele é colocado em liberdade condicional, mas a psiquiatra Ana (Almudena Amor) consegue permissão para investigar mais a fundo o comportamento de Sergio, e a sua opção pelo silêncio depois do crime. Ela consegue colocar câmeras dentro do apartamento de Sergio, pessoas o seguem, e essa vigilância extrema acaba virando uma obsessão.

Tanto o trailer como a sinopse da série me lembraram muito o livro A Paciente Silenciosa de Alex Michaelides (Editora Record), que tem como base justamente o silêncio absoluto depois de algum acontecimento, mas logo no primeiro episódio vemos que este silêncio de Sergio é apenas com algumas pessoas, ele fala pouco, mas conversa por exemplo, com o pastor Natanael (Ramiro Blas), que o acompanha desde a prisão, é que o responsável pelo trabalho que Sergio fará na condicional. Ele também fala e faz outras coisas com Marta (Cristina Kovani), uma moça que chegou a visitar Sergio na prisão, mas essa aproximação só foi consolidada porque Marta é a única pessoa que diz que sabe onde está Noa, irmã de Sergio, ela era mais nova e estava no apartamento na noite da morte dos pais, mas depois do crime eles perderam totalmente o contato.

A premissa básica da série é ótima, mas logo no início a primeira quebra de expectativa é que Sergio não está em silêncio com todos, e no trailer dava a entender que isso era uma condição crucial sobre o crime. Aitor Gabilondo, criador da série começou a se perder neste ponto, outro ponto sem qualquer coesão é a obsessão de Ana em relação a Sergio, concordo que é estranho esse silêncio seletivo, principalmente porque sobre o crime ele realmente não fala com ninguém, e há sempre a pergunta crucial, será que foi Sergio que matou mesmo os pais? Ou ele está encobrindo alguém?

Ana (Almudena Amor)

Todavia tudo que Ana começa a fazer para tentar entender Sergio é descabido, ela quase não vai para sua casa, passa todo o tempo focada nas câmeras perseguindo cada passo que Sergio dá, e mesmo quando nos é revelado um segredo de Ana que é algo surpreendente, a opção da personagem no final nos deixa sem qualquer entendimento. Há também um tempo excessivo no roteiro com a história de Sergio, Marta e seu noivo Eneko (Manu Rios), isso mesmo, ela é comprometida, mas tem uma paixão por Sergio, e perdemos muito tempo com ela dividida entre com quem ela vai ficar, eu entendo que a série tem um apelo mais juvenil, já que os atores fizeram Elite (série Netflix), mas isso vai quebrando o mistério em relação ao que aconteceu com os pais de Sergio.

Um personagem que tinha potencial, mas que para mim não foi trabalho é Natanael, ele faz um típico pastor meio mafioso, e ficamos intrigado com a sua igreja, seus discípulos, e como tudo isso começou, mas eles optaram por não desenvolver esse lado da trama. O penúltimo e o último episódio são de praxe os mais reveladores, sabemos como o crime ocorreu de fato, mas as motivações para isso são toscas, para dizer o mínimo.

A cena final é intrigante, muito bem dirigida, mas que por mais que deixe um gancho para pensarmos em algo depois não empolga como deveria, por faltou muito no desenvolvimento de história. Como mencionei antes o trailer me lembrou muito o livro A Paciente Silenciosa, mas a surpresa neste caso foi bem negativa, é mais uma série que se perde em querer desenvolver personagens menores, por talvez serem interpretados por atores que estão em alta, e que deixam o mistério real á parte, infelizmente faltou evidenciar o principal, contextualizar a história, e um pouco de coragem em dissecar assuntos mais complexos, faltou “silenciar” o hype para dar a devida importância a história de Sergio.

Nota: Boa, mas tinha como ser excelente.

Onde Assistir: Netflix