Querida, Alice - um retrato agonizante de um relacionamento destrutivo
- Janaina Pereira
- 7 de nov. de 2023
- 3 min de leitura

Este filme estava na minha lista desde quando estreou no Prime Vídeo (maio/23), mas toda vez que via o trailer eu achava que tinha cara de filme ruim, e mesmo gostando muito da Anna Kendrick, que é a protagonista, no trailer a história não me cativava nenhum pouco.
Entretanto no último final de semana eu resolvi assistir Querida, Alice e minha gente que filme angustiante, com vários gatilhos para quem já esteve num relacionamento abusivo, mas que conseguiu fugir das obviedades que sempre vemos nessas produções, e ao juntar Alice com suas amigas tão potentes, traz um desfecho criativo e muito forte. O filme é dirigido por Mary Nighy, e escrito por Alanna Francis (Amigas Improváveis), e acredito que essas mulheres na produção, roteiro foram essenciais para que essa história fosse contada do jeito que foi.
A narrativa acompanha Alice que está claramente num relacionamento abusivo com Simon (Charlie Carrick), e logo de início notamos que ela já tem sérias consequências deste abuso. A necessidade de estar perfeita em todos os sentidos, disponível a qualquer hora ou lugar, e mesmo assim sempre angustiada por estar em dívida com Simon é difícil de ver, ouvir, e principalmente saber que nós, nossas amigas, mães, filhas, de uma forma ou de outra já se anularam para caber dentro da expectativa do outro, e isso é tão triste. São retratos bem fortes, e adianto que para quem está numa situação semelhante o filme pode gerar inúmeros gatilhos.

E numa tentativa de sair um pouco dessa prisão, Alice mente para Simon e vai passar alguns dias com Sophie (Wunmi Mosaku) e Tess (Kaniehtiio Horn) na cabana da família de Sophie, as três são amigas de longa data, e naquele ambiente novo é o momento para que Alice possa enfim entender tudo que está vivendo, mas tudo isso pode se complicar quando Simon aparece de repente na cabana. É um filme que retrata um relacionamento abusivo, mas que em 1h30 optou por inteligentemente um roteiro diferente do que estamos acostumados a ver com esse tema, atuações angustiantes de fazer você virar os olhos para não ver, uma sensação de medo da protagonista que recai sobre você que está assistindo, e uma resolução inesperada, extremamente empática, e que deixa a mercê dessas grandes atrizes o clímax perfeito para esse final.

Obviamente que Anna Kendrick tem uma atuação devastadora, mas eu acho que o clímax sempre vem quando ela está trocando com Tess e Sophie, naquele momento Alice necessita daquele apoio, mesmo que se recuse a pedir ou aceitar de bom grado, em alguns momentos ela até se coloca contra as amigas reforçando tudo aquilo que Simon fez com que ela acreditasse. Há um momento em que Alice ainda reforça que Simon nunca a agrediu fisicamente, ela não consegue mensurar que está sendo agredida reiteradamente, psicologicamente destruída ela vê em Simon sua única salvação, a única chance de ser amada. Tess é amiga do embate, é ao lado dela que Alice se vê questionada abertamente se esse relacionamento é saudável, ela faz as perguntas mais difíceis, e mesmo sabendo que Alice irá magoá-la ela não recua.
Já Sophie é o lado mais amoroso dessa relação da amizade, foi ela que deu a ideia de elas irem até a cabana comemorar o aniversário de Tess, e ela que sempre se coloca a disposição, mas sempre de uma maneira que traga acolhimento, confiança, e essas duas abordagens são cruciais para que Alice vá entendendo sua real situação nesse relacionamento. Querida, Alice é um filme potente, angustiante, em alguns momentos bem indigesto, mas que reforça o poder que há numa amizade, ele escancara um amor tóxico, mas te proporciona ver um ele de amor que essas 3 mulheres são, e como isso é necessário para recomeços nessa vida.
Nota: Excelente e angustiante.
Onde Assistir: Prime Video.
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