Missa da Meia Noite - O verdadeiro horror está nas ações humanas
- Janaina Pereira
- 12 de abr. de 2023
- 3 min de leitura

Essa minissérie estava na minha lista da Netflix desde que estreou em novembro de 2021, mas o que me deixava receosa ao dar o play era o terror, como todos falavam disso, e dos trabalhos anteriores na Netflix do Mike Flanagan ( A maldição da mansão Bly e A maldição da residência Hill), eu tinha medo mesmo, mas toda vez que estava zapeando na lista, eu dava o play no trailer porque a musica que toca é Somewhere Only We Know da banda Keane, uma das minhas favoritas da vida, e é claro o trailer é muito atrativo.

Finalmente deixei o medo de lado e comecei a assistir, e não apenas perdi o medo, como fiquei extasiada com a história, os personagens, os dilemas. Cada episódio é um livro bíblico, começamos em Gênesis e terminamos em Apocalipse (são 10 ao todo), e iremos conhecer Riley (Zach Gilford), um homem que cumpriu 4 anos na prisão por matar uma moça num acidente de carro e que estava alcoolizado, e quando termina sua pena ele é obrigado a voltar para a ilha Crockett, o lugar da sua infância, e vai morar com seus pais e seu irmão mais novo.

A primeira panorâmica da ilha nos dá a dimensão do quanto ela está isolada do continente, a única forma de locomoção para sair dali é por mar, e quando vamos junto com Riley andando pelos lugares percebemos que ali é quase uma cidade fantasma, ao total são 127 habitantes, vivem da pesca que está escassa, e são pessoas com uma ligação muito forte com a igreja local e seu o Monsenhor que está há muitos anos a frente de tudo. No dia que Riley retorna também chegará à ilha o padre Paul (Hamish Linklater) que veio para ficar um tempo no lugar do Monsenhor Pruitt que ao retornar de Jerusalém não se sentiu bem e ficou no continente.
Entretanto ao ministrar as missas as pessoas começam a perceber mudanças significativas em alguns pontos de suas vidas, a mãe de Riley, por exemplo, que sempre usou óculos agora está enxergando melhor sem ele, seu marido que estava reclamando de dores nas costas, de repente não as sente, mas quando o padre Paul pede que Leeza (Annarah Cymone), uma jovem paraplégica levante de sua cadeira e isso milagrosamente acontece, todos percebem que estão diante de um milagre divino, e isso reacende a esperança nos moradores da ilha, é como um sinal de Deus que as coisas boas estão chegando.

Eu sabia que o sobrenatural estaria no contexto, mas fui surpreendida positivamente da forma que eles fizeram isso, é algo que te aterroriza, mas tinha que ser dessa forma, e depois do 3 episódio é quase impossível não querer saber de tudo. Os personagens são intrigantes, e mesmo com diálogos extensos eles não são maçantes, tudo que se conta ali, e até a forma como é contado é proposital para o enredo da minissérie, eu quero destacar aqui a personagem da beata Bev (Samantha Sloyan), ela faz a típica cristã puritana, mas que na verdade é uma pessoa horrível, cheia de preconceitos, invejosa, exala pela cidade um ar de superioridade que logo nas primeiras cenas você já não gosta, e com o passar dos episódios prepara-se porque você vai ter mais raiva de tudo que ela faz. Crockett e seus habitantes são um excelente exemplo de como a humanidade pode distorcer e usar a palavra divina para as maiores perversidades.

O título da minissérie faz referência a última missa que acontece na história, e seu desenrolar é chocante, aterrorizante, mas quando você já chegou até aqui, são os outros temas que a minissérie levanta que já cativaram você, o debate abrange, fé perdão, renúncia, mentiras, morte, culpa, intolerância religiosa, vícios, Deus, e tenho certeza que cada um que assiste pode achar mais ainda nesta obra. A maioria dos personagens possuem enredos interessantes, e alguns conseguem se redimir no final de um jeito digno e com propósito, a crença de cada um em qualquer coisa deve ser validada e principalmente respeitada.
Quando cheguei no penúltimo episodio eu achei que já tinha sido revelado os mistérios mais importantes, e que na season finale intitulada de Apocalipse seria o caos e um final que eu já achava que sabia o caminho, mas Mike me arrebatou de um jeito que não estava preparada, as revelações, e quando uma personagem fala sobre morte eu desabei a chorar e não parei mais, é um dos finais mais coesos que eu já vi num projeto de mistério e sobrenatural, é uma fotografia que caminha junto com tudo que está acontecendo, e que nos presenteia com cenas estonteantes, a vontade é pausar em alguns momentos e ficar olhando, assim que finalizei eu entendi que o terror aqui é apenas o fio condutor para algo maior e melhor, que te leva a reflexões intensas e profundas.
Nota: Excelentíssimo roteiro, elenco, direção, um primor!
Onde Assistir: Netflix
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