Eric - um lembrete visceral de que devemos ser melhores...
- Janaina Pereira
- 23 de jun. de 2024
- 3 min de leitura

Anos 80. Nova Iorque.
Neste cenário vamos conhecer a história de Vincent (Benedict Cumberbacth), um artista que cria fantoches/bonecos, e que comanda junto com seu amigo um programa infantil de muito sucesso na TV, ele é casado com Cassie (Gaby Hoffman) e eles tem um filho de 9 anos chamado Edgar (Ivan Morris Howe), e o que parece uma família comum e feliz é na verdade um lugar de muitas discussões entre o casal, logo no primeiro episódio já percebemos que o casamento não está nada bem, e que Edgar presencia muitos momentos tensos entre os pais.

Edgar possui o mesmo talento para desenhar do pai, e num dia ele mostra ao pai o esboço de um novo boneco, com o nome Eric, mas Vincent não dá muito crédito ao filho.
No dia seguinte Edgar desaparece ao ir sozinho para a escola, e este sumiço irá escancarar o quanto Vincent está mentalmente ruim, além de vícios em álcool e drogas, em contrapartida Cassie está infeliz, e de certa forma ainda culpa Vincent pelo desaparecimento do filho.

Quem cuida do caso de Edgar é o policial Letroit (McKinley Belcher III), que além deste desaparecimento está com outro caso de um jovem em aberto há quase um ano, a diferença entre esses dois casos? Edgar é branco, rico e Marlon (Bence Orere) é negro e pobre. Essa minissérie nos dá a primeira impressão de ser algo em torno apenas do sumiço desses jovens, mas ela vai a fundo nos problemas da cidade naquele momento, há uma crise de moradia extensa, muitas pessoas vivem nas ruas ou até nos túneis do metrô da cidade, o lixo está espalhado em todo o lugar, e a corrupção na política está tão espalhada como os detritos. A polícia de NY também está seriamente comprometida, e fica escancarado que se você for gay, negro e pobre o alvo já está nas suas costas, o preconceito é corriqueiro e acaba determinando o rumo das pessoas e das políticas públicas da cidade.

Letroit é para mim o personagem mais denso, ele está cansado de tentar fazer o que é certo, ao mesmo tempo em que sofre preconceito diretamente no seu local de trabalho, e por mais que tenha uma vida escondida de tudo e todos, ele se vê pressionado a todo momento, tudo parece estar preste a desmoronar na sua vida. A mãe de Marlon – Cecile (Adepero Oduye) é uma mulher que não mede esforços para que seu filho seja encontrado, ela vai literalmente até o inferno para que uma solução do caso ocorra, e quando isso acontece são cenas de doer na sua alma, uma mãe não deveria passar por aquilo, mas sabemos que é exatamente assim, e por serem pessoas pobres e negras isso acontece a todo instante.

Eric é uma minissérie para escancarar o quanto somos ruins como pessoas e sociedade, que o preconceito ele limita, aniquila, destrói tudo por onde passa, e mesmo quando você não é atingido diretamente, todas essas situações atingem o coletivo, a mãe de Marlon no episódio final diz que temos que melhorar, que esse é o único caminho. Na minissérie Vincent tem essa oportunidade de melhora, e é impressionante como Benedict traz uma carga emocional gigantesca neste desfecho, ele chora e choramos junto, Eric é mais que um boneco, ele é um lembrete constante do que é preciso ser feito como sociedade.
Nota: Muito bom e com uma relevância atemporal
Onde Assistir: Netflix
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