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Boate Kiss - A Tragédia de Santa Maria -um desastre anunciado, revisitado e ainda sem fim

  • Foto do escritor: Janaina Pereira
    Janaina Pereira
  • 10 de mar. de 2023
  • 3 min de leitura

Não li o livro da Daniela Arbex Todo Dia a Mesma Noite, que é baseado na boate Kiss, e mesmo sabendo que é a série da Netflix que tem como base esse livro foi assistindo a esse documentário do Marcelo Canellas que só pensava no título do livro, e como infelizmente ele é muito apropriado para podermos ter um vislumbre da dor das famílias, sobreviventes, porque essas pessoas realmente revivem aquele 27 de janeiro de 2013, e isso se deve ao fato de que a justiça brasileira é lenta, burocrática e parcial demais para que tenhamos um desfecho e que os culpados paguem por isso.



Marcelo Canellas entrevistando sobreviventes da Kiss

Marcelo Canellas é de Santa Maria, e durante todos os anos depois do ocorrido ele acompanhou de perto o desenrolar de todo esse processo, ele conhece os sobreviventes, tem uma familiaridade com o caso que o ajudou a construir um documentário muito respeitoso, e que tem como seu objetivo que as pessoas não esqueçam dessas 242 pessoas, e que um dia a justiça possa dar enfim suas respostas. O primeiro episódio do documentário é apenas devastador, ver as imagens daquela noite, ouvir como as famílias ficaram sabendo do que estava acontecendo, ver os sobreviventes te causa uma dor física, é muito chocante ver todo aquele horror. Ouvir os relatos das pessoas que chegaram ao local primeiro é de cortar o coração, o médico que tentou salvar, mas que encontrava muitos sem vida ali na rua, o desespero dos que conseguiram sair para voltar á boate e salvar mais gente, o vai e vem dos familiares nos hospitais, e como foi caótico obter qualquer informação num primeiro momento.


Os responsáveis pela investigação também falam, e esses relatos também são bem chocantes, ouvir que num corpo tinha 120 ligações da mãe desse jovem é inimaginável, e neste ponto também vamos entendendo tudo que a investigação foi descobrindo, e todo o cuidado que toda a equipe teve para que no final fossem apontados todos os responsáveis, desde o maior grau até o menor, é um processo extremamente extenso, mas que tinha como o foco que todos que estavam ligados ao que ocorreu pudessem ser julgados como a lei determina. Entretanto 9 anos depois, foram parar no banco dos réus os sócios da boate, o vocalista da banda e o ajudante que comprou o artefato que ele usava no braço e que deu início ao incêndio, a prefeitura, bombeiros, não foram julgados e eles constavam na investigação, mas foram deixados de fora, e este fato com a demora para se marcar o julgamento foi muito torturante e doloroso para as famílias e os sobreviventes.



Marcelo Canellas em frente a Kiss

Conhecemos os pais que fundaram a associação que acompanharam de perto todo esse longo processo, e vemos como para cada um essa espera teve proporções cruéis, alguns familiares não conseguiram nem ir ao julgamento, outros inclusive mudaram de Santa Maria porque não aguentaram, e alguns continuaram apesar de tudo, e como ouvir esses relatos é doloroso. Canellas fez um trabalho impecável ao reunir tantos fatos, pessoas, inclusive ele vai até a Argentina conhecer familiares das vítimas e sobreviventes da boate Cromañón, porque tanto lá quanto em Santa Maria há coincidências fatais, fogos na boate, teto inflamável, poucas saídas. E intercalado com as semelhanças da tragédia Argentina, vamos acompanhar de perto como foram os 10 dias do julgamento em Porto Alegre, as manobras dos advogados de defesa para conturbar o julgamento, os depoimentos devastadores dos sobreviventes, e a dor estampada no rosto de cada familiar das vítimas que não esmoreceram mesmo nos momentos mais delicados.


É de conhecimento de todos que mesmo depois de condenados e ficarem 8 meses presos, a defesa conseguiu a anulação do julgamento, e, portanto, os réus estão soltos desde então, no documentário Canellas destrincha todos esses recursos, e o que senti ao assistir os episódios é o quanto ele foi cuidadoso em respeitoso em mostrar essas histórias. Esse ano fez 10 anos daquela noite, e de lá para cá eu imagino o quanto essas pessoas falaram, clamaram, lutaram por justiça, e a forma como esse documentário se encerra para mim é a síntese dos sentimentos dessas pessoas que perderam seus filhos naquela noite, e daqueles que mesmo saindo com vida nunca mais serão os mesmos, eles não irão desistir, lutam e continuarão nesta batalha para um novo julgamento, e se fazem presente para que não aconteça tragédias como essas.



Nota: Excelente, e muito triste

Onde Assistir: Globoplay


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