Amanhã, amanhã e ainda outro amanhã, Gabrielle Zevin - o melhor livro do ano pra mim, um dos melhores capítulos que li na vida
- Janaina Pereira
- 21 de ago. de 2024
- 4 min de leitura

Confesso que sempre que via alguém falando de Amanhã, amanhã e ainda outro amanhã o que se passava na minha cabeça é que seria mais um livro motivacional, eu nunca tinha lido a sinopse, ou procurado alguém que me disse mais sobre a história. E foi bem de forma crua que me aventurei nesta leitura, e posso afirmar com certeza que li o melhor livro este ano, e que fui devastada com um dos melhores capítulos que já li em toda a minha vida. Mas vamos a narrativa, quando está em seu 3° ano em Harvard, Sam Masur encontra por acaso sua amiga de infância Sadie Green, eles não se viam há anos, e neste encontro fica claro que eles mantêm em comum uma coisa: o amor pelos games, isso mesmo eles se conheceram aos 11 e 12 anos num hospital, especificamente na sala de jogos, e uma amizade muito profunda nasceu entre as vidas infinitas de Super Mario Bros. Sam estava no hospital porque tinha sofrido um grave acidente, e seu pé esquerdo ficaria com sequelas para sempre, já Sadie estava acompanhando a sua irmã Alice que estava num tratamento oncológico.
E a amizade entre eles ficou maior, mais intensa, só que um acontecimento magoou muito Sam naquela época e o fez se afastar de Sadie, até reencontrá-la no trem, e neste momento ela entrega para Sam um jogo que ela fez chamado Solutions. Deste momento em diante os dois retomam o contato, e quando Sadie fica mal por ter terminado seu namoro, é ao lado de Sam e Marx, um amigo de Sam, que eles começam a fazer um novo jogo, Ichigo que assim que é lançado alcança sucesso imediato. É bom ressaltar que muito desse mérito deve ir para Marx, ele altruísta, inteligente, perspicaz, e no processo foi peça fundamental para que Sadie e Sam pudessem trabalhar da melhor forma, ele providenciava horários, pausas, comidas, antecedia quais materiais, softwares, eles iriam precisar, e é claro, também dividia com os amigos a paixão pelos jogos, portanto ele era o primeiro a testar e consequentemente indicar melhorias fundamentais para o sucesso futuro de Ichigo.
Depois desse primeiro jogo, os 3 amigos tornam-se sócios da Jogo Sujo, uma empresa promissora de games, entretanto, trabalhar com seus melhores amigos pode causar mais divergências do que eles poderiam imaginar. Sadie e Sam tem personalidades parecidas, e muito disso fica evidente em como eles tratam os problemas, ao invés de conversarem, tentarem se entender, cada um fica com sua mágoa, e faz com que o ressentimento do outro cresça a cada dia. Logo no começo da leitura eu tinha me apaixonado por Sam, aquele menino mega introspectivo, e que vivia enclausurado muito pela sua deficiência te faz querer acolher Sam de primeira, mas suas atitudes egoístas, cruéis me fizeram ter raiva dele em muitos momentos. Já com Sadie para mim foi um eterno gosto e não gosto, ela é uma mulher competente, e que por uma sociedade machista sofre para se provar como capaz sabe, mas mesmo ela enxergando muito bem tudo e optar por se calar e ressentir me deixou bem nervosa.
Agora o que ninguém espera é o amor que vamos nutrindo ao lermos mais sobre Marx, o ele que mantém a sociedade funcional e possível, o rapaz gente boa, que se permite viver tudo intensamente, e que tem o amor de amigo como seu bem mais precioso, ele ama Sam e Sadie e é capaz de tudo para que os dois fiquem bem, felizes, satisfeitos. A relação de Sam e Sadie só funciona sem problemas quando eles jogam, naquele ambiente eles conseguem ter uma conexão sem qualquer divergência, parece que neste momento eles tornam-se uma coisa só, e isso é de uma beleza transformadora. Você pode estar se perguntando se essa história não vai virar um romance entre Sadie e Sam, eu também fiquei lendo pensando nisso durante muitos capítulos, mas o amor conjugal nem sempre é o maior amor que você pode proporcionar ao outro. É claro que eles se amam, e em algum momento Sam se questiona fortemente se esse sentimento pode ser vivido como um casal, mas o amor mais intenso que Gabrielle trabalhou aqui foi de uma amizade com seus intensos, vulneráveis e transformadores altos e baixos.
E aqui preciso comentar especificamente do capítulo O NPC, quando comecei a ler este momento já esperava que seria algo bem emocionante, mas eu nunca, nunca poderia imaginar que estaria lendo uma das melhores coisas que li em toda a minha vida, eu não darei spoilers aqui sobre o que acontece neste capítulo, mas posso afirmar que você entra de um jeito e sai de outro. O NPC é um mergulho na vida, nos sonhos desse personagem, intercalando passado e presente de um jeito mágico, poderoso, íntimo e poético, vamos da apreensão plena, a esperança, e por fim a constatação de que não queríamos, mas tudo é escrito como poesia pura, as metáforas usadas por Gabrielle são tão precisas, e é impossível não finalizar este capítulo aos prantos.
No meu caso eu estava tão emocionada que tive que ligar para um amigo que já tinha lido o livro, faltavam umas 130 páginas para o final, mas eu de fato queria parar de ler, tenho a sensação de que este capítulo eleva a escrita de Gabrielle a ser listada nos 100 melhores livros do século. Fiquei 40 minutos em ligação, chorei, xinguei, mas a sensação era nossa eu li algo espetacular. Retomei a leitura e finalizei em algumas horas, e como o livro cresce nessas páginas finais, parece que serão dias infinitos com o próprio nome do capítulo posterior ao O NPC, mas tudo passa rápido, você vai compreendendo melhor essas pessoas, suas histórias, e consegue achar joias raras nas imperfeições humanas. Amanhã, amanhã e ainda outro amanhã é uma homenagem aos games, mas diz muito sobre a vida, nossas escolhas, e que diferente dos jogos aqui nem sempre teremos uma segunda chance, um novo recomeço, mas o amanhã chega e o que faremos com ele?
Nota: Memorável, é uma experiência ler este livro! Excelenteee!!
Editora: Rocco
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