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Adolescência, uma minissérie ousada, focada, sensível e poderosa.

  • Foto do escritor: Janaina Pereira
    Janaina Pereira
  • 19 de mar.
  • 3 min de leitura



Quando assisti pela primeira vez o trailer de Adolescência, eu tive a certeza de que seria mais uma produção do gênero criminal, talvez até crimes reais envolvendo um adolescente, e que iríamos ver a prisão, o que tinha acontecido, julgamento e desfecho, inclusive achei o trailer extremamente confuso por ser cheio de cortes. Na quinta-feira (13) quando estreou eu fui ver o primeiro episódio, e já fiquei intrigada porque a minissérie tem apenas 4 episódios. Assim que comecei o primeiro notei que tudo foi filmado em plano sequência, e tudo começa quando os policiais vão até a casa de Jamie Miller e o levam para a delegacia, de uma forma até truculenta, e esse menino de 13 anos está sendo acusado de um homicídio, a vítima é uma garota da sua escola.



Eu finalizei Adolescência no sábado (15), e enquanto via os créditos meu cérebro tentava processar toda a angústia, emoção que senti com essa trama e esses personagens. A minissérie foi criada e roteirizada por Stephen Graham e Jack Thorne, e Stephen ainda atua na minissérie como o pai de Jamie – Eddie Miller, a direção brilhante está com Philip Barantini. Todos os 4 episódios são filmados num take só, e ao todo a produção tem 3 horas e 48 minutos, e eles fogem de todo o estereótipo de que já vimos sobre crimes envolvendo jovens, a abordagem é como uma acusação como essa recai sobre as pessoas envolvidas, e vai desde os pais deste jovem, os colegas de escola, a psicóloga que vai ter uma sessão com Jamie.


O foco da minissérie não é dar um desfecho em relação ao crime, se for julgado, se será condenado ou inocentado, isso não importa aqui, já aconteceram muitas coisas, as dores já estão sendo vivenciadas. A trama coloca uma lupa sobre o mundo dos adolescentes, e realmente é um lugar totalmente novo para quem não está ali com eles, no segundo episódio vemos os investigadores na escola, eu tive que pesquisar alguns termos para entender algumas dinâmicas, e isso inevitavelmente te mostra o quanto estamos distantes, de fato, desses jovens.



No terceiro episódio há uma sessão de Jamie com uma psicóloga, e aqui meus amigos, temos uma AULA, AULAAA de atuação de Owen Cooper com apenas 14 anos, e levando em conta que esse é seu primeiro trabalho como ator. Por ser um take só, vamos ver de forma detalhada como Jamie vai do menino grato ao receber um chocolate e sanduíche, a raiva por não conseguir escutar da terapeuta aquilo que apaziguaria suas angústias, até uma explosão de ódio ao ser confrontado com traumas que talvez nem ele sabia que doíam tanto. Neste episodio temos que aplaudir Erin Doherty, como Briony o controle em cena é formidável, seu tom de voz, seu olhar, a interpretação é contida, séria, profissional mesmo nos momentos mais tensos, e a incredulidade chega nos 2 minutos finais de um jeito que ficamos devastados junto com ela.


E no último episódio vamos olhar mais de perto os pais e a irmã de Jamie, e como o entorno dessa família nunca mais será a mesma depois dessa acusação. Temos um dia comum deles e que vão escalando para uma descoberta que faz esses pais terem um diálogo genuíno, integro, emocional, e que se você é pai e mãe já se fez algumas daquelas perguntas. Como o próprio Stephen disse numa entrevista essa produção “é o pior pesadelo de uma família comum”, poderia ser a minha, a sua, porque não há um fator que coloque essa família como problemática, tudo era de fato muito harmonioso, mas as pequenezas passaram, elas sempre passam. Adolescência é obrigatória para quem tem filhos, mas como sociedade seria ótimo que todos pudessem ver esse trabalho, é realmente uma descoberta que choca, emociona, agrega, te faz pensar em como foi sua própria adolescência, e tudo que é moldado a partir daqueles momentos, das pessoas, das escolhas que fazemos.



Nota: Mais que excelente, necessária, forte, sensível.

Onde Assistir: Netflix

 

 

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