A Substância -o gore extremo para desnudar facetas do machismo, etarismo, misoginia
- Janaina Pereira
- 25 de fev.
- 2 min de leitura

Mulheres em geral passam toda uma vida buscando um corpo que a sociedade definiu como “o melhor”, ninguém sabe definir o que seria o ideal, porque na verdade isso nem pode ser definido, mas sabemos o quanto essa busca por jovialidade, beleza, o corpo perfeito acaba com mentes de mulheres ao redor do mundo. Todos nós já nos sentimos assim, e com a idade parece que podemos ser facilmente descartadas, e isso é mais gritante quando o sucesso midiático veio justamente para uma mulher.
Uma mulher que começou na TV com o foco máximo em sua beleza, jovialidade, charme, inevitavelmente faz com que ela e todos ali fiquem condicionados e acostumados que ela só pode ser resumida a esses atributos. Elizabeth (Demi Moore) alcançou fama com esse olhar dos outros e dela sobre si, aos 50 anos faz um programa fitness da TV, e mesmo sendo uma mulher muito bonita, Harvey (Dennis Quaid) - o chefão da TV pede sua demissão alegando apenas que ela está velha, e que aquilo que eles querem mostrar para os espectadores é uma beleza aliado a jovialidade, e a postura de Harvey é a de um boçal, a cena que ele leva Elizabeth a um restaurante para comunicar sua demissão é de um descaso nojento, ele saboreia a comida como um animal, e vai falando impropérios como se não fosse nada.

Ao sair desnorteada desse almoço Elizabeth sofre um acidente de carro, e no hospital um jovem enfermeiro lhe passa o contato sobre uma substância que pode trazer sua versão jovem de volta. Deste momento até o final do filme Coraline Fargeat (diretora/roteirista/produtora) usa, abusa e extrapola o body gore, e é muito de fato, a cena que ela injeta pela primeira vez a substância e Sue (Margareth Qualley), nasce literalmente de suas costas é muito bizarro. Entretanto há regras que precisam ser seguidas ao tomar as doses da substância, e Sue quando consegue a atenção de todos novamente por sua beleza, jovialidade, ela vai começar a quebrar essas regras, e tudo irá impactar de forma devastadora no corpo de Elizabeth, a sua matriz.
E o que vemos do segundo ato do filme, até o seu desfecho é uma briga aberta entre Elizabeth e Sue, e da mesma forma que a primeira buscou esse recurso para ficar jovem e assim retomar sua vida, a segunda que está nesse patamar não quer de forma alguma abrir mão de não estar sempre no centro dos holofotes, ela tem consciência de que quando for mais velha não será mais útil, e está disposta a ir até as ultimas consequências para continuar com sua fama e aceitação.

A Substância leva tudo ao extremo, suas atuações, direção, fotografia, é um combo de cenas bizarras, até nojentas, mas que faz você ir pensando sobre o quanto já foi cruel com seu corpo, e entende que a maior violência não é a escrachada, é de repente se arrumar e travar uma briga invisível com o espelho, e neste momento não há horror maior que uma mulher faz com ela mesma.
Nota: Bizarramente interessante, envolvente e reflexivo
Onde Assistir: Mubi
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